O rio Itapecerica de Divinópolis requer maior atenção


Chegou a hora de fazer as contas e ver o que vai sobrar do rio Itapecerica e dos mananciais que o alimentam. Politicagem de lado, mangas arregaçadas, espírito de cooperação e mutirão (como estimulava o saudoso Simão Salomé de Oliveira), são as melhores atitudes.
Memórias de uma época - VI

20110121

Um sinal de alerta letal

O maior desastre natural da história do Brasil foi um sinal de alerta para a necessidade de planejamento, monitoramento e educação sobre as áreas de risco, sem politicagem, sem especulação imobiliária

Cenário semelhante à passagem de um furação ou de um terremoto de sete graus Richter: desolação na destruição!~~ Qual a perspectiva?

Nos últimos quatro anos, o Brasil tem enfrentado chuvas torrenciais e deslizamentos de terra devastadores, mas não comparados às deste janeiro que se transformou numa tragédia não apenas (como sói acontecer) para moradores pobres de périferia urbana, mas também ricos moradores de mansões luxuosas, pegando-os de surpresa enquanto dormiam.

Um fato lamentável é que as autoridades e cientistas já sabiam disso, mas pouco fizeram para evitar danos maiores e milhares de vidas perdidas. São crescentes as acusações de planejamento irresponsável por parte das autoridades civis. Parece que não avaliaram a real dimensão desses fenômenos naturais que se tornaram frequentes nas principais cidades brasileiras. É a perigosa banalização das mudanças climáticas e das alterações da crosta terrestre, que impede de antecipar e acreditar nos eventos que se sucedem com mais regularidade apesar das interpretações estatísticas de fundo não alarmista.

Outro fato lamentável é que, na década passada, a região serrana (que envolve três estados) passou a ser objeto de estudos (patrocinado pelo governo federal), que promoveu levantamentos das áreas de risco, identificando as mais perigosas (só em Terezópolis, há 93), mas nada foi feito, talvez para não atrapalhar a economia imobiliária que tira proveito da ocupação ilegal, sob a vista grossa dos políticos que temem as críticas daqueles que investiram nessas áreas. As imagens de janeiro de 2010 são muito parecidas com as deste ano: inundaçõe e casas de favelas levadas morro abaixo, diferindo, porém, no número de mortos, desaparecidos e famílias afetadas pela enxurrada ou soterradas por deslizamentos de terra.

Sem monitoramento, planejamento e alerta oficial tudo pode acontecer

Como se percebe, as responsabilidades pelo problema estão em todos os níveis do Estado. A prevenção não faz parte dos discursos dos políticos que se interessam mais por ações imediatas, que dão mais retorno eleitoral. O próprio governo federal havia admitido, em novembro passado, que não havia implementado nenhuma das medidas recomendadas para informar, educar e alertar comunidades sob risco, nem mesmo com a criação de um banco de dados ou um site na internet. Notícias de última hora, dão conta de que havia equipamentos e aparelhos instalados em várias pontos das áreas de risco, mas não estavam funcionando por falta de recursos humanos, ou seja, estavam desligados.



“A fúria da natureza tropical” (expressão do jornal francês Le Monde) pode ter sido a responsável inicial pelo desastre, “mas o céu têm menos culpa que os homens”, pois “não há fim no inventário das muitas falhas que levaram à tragédia”: falta de capacidade para previsões meteorológicas precisas, inexistência de sistemas de alerta e a ocupação irregular em áreas de risco. Dados oficiais indicam que cinco milhões de brasileiros vivem em áreas de risco, sendo essa situação “mais a regra do que a exceção”, como disse a presidenta Dilma Rousseff.

Para consultora Debarati Guha-Sapir, do Centro de Pesquisas sobre a Epidemiologia de Desastres (Cred), da ONU (em Bruxelas, Bélgica), é um absurdo que o Brasil, com apenas um perigo natural para administrar, não consiga fazê-lo. Segundo ela, “
[...] este foi o 37º deslizamento de terra no Brasil em menos de dez anos (...) Imagine se o país também enfrentasse terremotos, vulcões ou furacões. O Brasil não é Bangladesh, não tem desculpas (Debarati Guha-Sapir, 14/01/2011)

Desafios futuros, medidas urgentes


Ao lado das epidemias de doenças infectocontagiosas, o estresse pós-traumático dos sobreviventes é um dos maiores desafios dos profissionais de saúde. Os desabrigados estão aglomerados em abrigos, perderam seus familiares, suas casas, sua identidade. Com as perdas, o sujeito estressado pode desenvolver irritabilidade, hiperatividade e distúrbios do sono, como pesadelos recorrentes. Segundo as autoridades sanitárias, para contornar a condição, uma das saídas é propiciar o retorno da vida das pessoas à normalidade, com suas atividades rotineiras, de trabalho, lazer, escola. No entanto, existe a falta de perspectiva para boa parte dos atingidos, para quem os problemas causados pela tragédia não têm prazo certo para acabar.

Pelo que se vê, os problemas decorrentes dos deslizamentos e inundações são sucessivos e cumulativos e tendem a ocorrer sempre com mais frequência, devidos às mudanças climáticas que provocam chuvas torrenciais em determinadas regiões e às alterações na crosta terrestre, com elevação das placas tectônicas. É o que está acontecendo com a placa americana, cuja deslocação por sobre a placa de nazca, provoca terremotos na região dos Andes e movimentação de terras na costa brasileira. Dias antes da tragédia na serra fluminense, dois tremores simultâneos (de aprox. 7 graus Richter) ocorreram em dois pontos distantes, no sul do Chile e Bolívia.


Para especialistas, diante da falta de planejamento urbano e da ocupação de encostas perigosas, a tragédia em curso na serra fluminense tende a se repetir em outras áreas. Por isso, sugerem a implementação de sistemas de alerta para a população, a desocupação de áreas arriscadas e o planejamento urbano de longo prazo.

Outros especialistas alertam também que as chuvas e as condições do terreno devem receber do governo (no três níveis) atenção semelhante à que países com atividades sísmicas e vulcânicas dispensam aos desastres naturais. Segundo a BBC Brasil, sem essas precauções, outras áreas de risco como encostas de solo raso sobre grandes blocos rochosos, sem rede de esgoto e galerias pluviais podem sofrer, em verões futuros, as perdas dos últimos anos nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
“A prevenção aqui tem que ser semelhante à de terremotos no Chile e a de vulcões no Japão (...) É preciso que haja continuidade aos planos de mapeamento de risco, remoção das pessoas que vivem em áreas perigosas, planejamento da ocupação urbana e execução desse planejamento. (Marcelo Motta, geólogo e professor da PUC-RJ)
“Já passa de 760 o número oficial de mortos em consequência das chuvas na região serrana fluminense. De acordo com o último balanço parcial de corpos já resgatados, divulgado na manhã desta sexta-feira (21) pela Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil, referente a quatro municípios, são 759 mortos. Nova Friburgo lidera a estatística, com 365 vítimas, em Teresópolis são 308 mortos, em Petrópolis, 65, e em Sumidouro, 21. (...)

De acordo com o balanço da Defesa Civil no Rio, o número de desabrigados em Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis é de 6.050 pessoas e o de desalojados, 7.780. O município de Petrópolis lidera o número de desabrigados e desalojados, com 2,8 mil e 3,6 mil, respectivamente. (Diário do Comércio e Indústria, 21/01/2011)

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